Mateus 6:16


"Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa.

 

"Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa." Mateus 6:16


1. Introdução

Este versículo faz parte do Sermão do Monte, onde Jesus ensina sobre as práticas espirituais genuínas. Após abordar a oração e a esmola, Jesus agora trata do jejum, expondo a hipocrisia religiosa de Seu tempo. O ensino é claro: Deus valoriza a sinceridade do coração, não aparências externas que buscam impressionar pessoas. Jesus desmascara aqueles que usam práticas espirituais como ferramentas de autoprómoção, mostrando que a verdadeira devoção acontece na intimidade com Deus, longe dos holofotes humanos. Este ensinamento permanece atual, confrontando a tendência humana de transformar a religião em performance pública.

2. Contexto Histórico e Cultural

No judaísmo do primeiro século, o jejum era uma prática espiritual comum e respeitada. A Lei de Moisés prescrevia jejum obrigatório apenas no Dia da Expiação, mas muitos judeus devotos jejuavam regularmente, especialmente os fariseus, que jejuavam duas vezes por semana. O jejum era associado a momentos de luto, arrependimento ou busca pela direção divina.

Na cultura judaica, sinais visíveis de jejum eram comuns: deixar de pentear os cabelos, não lavar o rosto, vestir roupas simples, aplicar cinzas na cabeça ou até usar substâncias para parecer pálido e fraco. Essas práticas externas tinham como objetivo demonstrar publicamente a piedade religiosa da pessoa.

Os líderes religiosos, especialmente os fariseus, eram conhecidos por transformar o jejum em espetáculo público. Eles escolhiam locais movimentados para jejuar, garantindo que todos vissem sua "devoção". Esta prática estava profundamente enraizada no sistema religioso da época, onde a reputação religiosa conferia status social e respeito na comunidade.

Jesus pronunciou estas palavras em um momento de confronto direto com este sistema hipócrita. Seu ensino revolucionário desafiava as estruturas religiosas estabelecidas, propondo uma espiritualidade autêntica baseada no relacionamento genuíno com Deus, não em performances públicas.

3. Análise Teológica do Versículo

Quando jejuarem

O jejum é uma disciplina espiritual praticada ao longo de toda a Bíblia, frequentemente associada à oração e ao arrependimento. No Antigo Testamento, jejuar era uma prática comum durante períodos de luto, arrependimento ou busca pela orientação de Deus (por exemplo, 2 Samuel 12:16, Jonas 3:5-10). Jesus pressupõe que Seus seguidores jejuarão, indicando a importância contínua desta prática. O jejum é uma forma de humilhar-se diante de Deus, buscando clareza e força espiritual.

Não mostrem uma aparência triste como os hipócritas

O termo "hipócritas" refere-se àqueles que realizam atos religiosos para exibição externa, e não por devoção genuína. No contexto cultural do tempo de Jesus, os líderes religiosos frequentemente buscavam reconhecimento público por sua piedade. Jesus adverte contra isso, enfatizando a sinceridade no relacionamento com Deus. A aparência triste era um ato deliberado para ganhar atenção e admiração dos outros, o que contradiz o verdadeiro propósito do jejum.

Pois eles mudam a aparência do rosto

Mudar a aparência do rosto era uma forma de demonstrar visivelmente aos outros que se estava jejuando. Isso podia envolver negligenciar o cuidado pessoal ou aplicar substâncias para parecer pálido e fraco. Tais ações tinham como objetivo provocar simpatia ou admiração, mas eram superficiais e perdiam a essência espiritual do jejum. Jesus critica este comportamento porque prioriza a aprovação humana sobre a aprovação divina.

A fim de que os homens vejam que eles estão jejuando

A motivação por trás do jejum dos hipócritas era ganhar reconhecimento das pessoas, e não buscar a Deus. Isso reflete um tema mais amplo no ensino de Jesus: a importância da justiça interior sobre as aparências externas. O desejo de ser visto pelos outros mina os benefícios espirituais do jejum, que deveria ser um ato privado de devoção a Deus.

Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa

Jesus enfatiza que aqueles que jejuam por reconhecimento público já receberam sua recompensa na forma de admiração humana. Isso contrasta com as recompensas eternas que vêm de Deus por atos genuínos de fé. A frase "eu lhes digo verdadeiramente" sublinha a certeza e autoridade da declaração de Jesus. O conceito de receber uma "plena recompensa" destaca a futilidade de buscar aprovação terrena e temporária em vez de recompensas celestiais e duradouras.

4. Pessoas, Lugares e Eventos

Jesus Cristo

O orador desta passagem, proferindo o Sermão do Monte, que inclui ensinamentos sobre vários aspectos da vida justa.

Hipócritas

Termo usado por Jesus para descrever aqueles que realizam atos religiosos para exibição externa, e não por devoção genuína. Neste contexto, são aqueles que jejuam para ganhar admiração humana.

Os Discípulos

O público principal dos ensinamentos de Jesus no Sermão do Monte, representando todos os seguidores de Cristo que buscam viver de acordo com Seus ensinamentos.

O Sermão do Monte

Um evento de ensino significativo no Novo Testamento onde Jesus apresenta os princípios do Reino dos Céus.

Jejum

Uma disciplina espiritual que envolve abster-se de alimentos (ou outras coisas) por um período de tempo para focar em oração e crescimento espiritual.

5. Pontos de Ensino

Sinceridade na Adoração

O jejum deve ser um ato genuíno de devoção a Deus, não uma performance para os outros. Nosso foco deve estar em Deus, não em ganhar aprovação humana.

Transformação Interior

O propósito do jejum é aproximar-se de Deus e buscar crescimento espiritual, não meramente cumprir uma obrigação religiosa.

Guardando-se Contra a Hipocrisia

Devemos examinar nossos motivos em todas as práticas espirituais, garantindo que estejam enraizados no desejo de honrar a Deus, e não de impressionar os outros.

Recompensa de Deus

As verdadeiras disciplinas espirituais, feitas em secreto e com o coração correto, são recompensadas por Deus, contrastando com as recompensas temporárias e superficiais do louvor humano.

Humildade na Prática

O jejum é uma forma de humilhar-nos diante de Deus, reconhecendo nossa dependência Dele e buscando Sua orientação e força.

6. Aspectos Filosóficos

Este versículo levanta questões profundas sobre autenticidade, motivação e a natureza da virtude. A hipocrisia religiosa que Jesus condena representa um problema filosófico fundamental: a dissonância entre ser e parecer. Os hipócritas escolhem a aparência sobre a realidade, construindo uma identidade pública que não corresponde ao seu verdadeiro eu interior.

A questão da motivação é central aqui. Uma ação pode ser externamente idêntica - duas pessoas jejuando - mas moralmente diferentes conforme a intenção. Isso levanta o problema ético de determinar o valor moral de uma ação: ela reside no ato em si ou na motivação que o impulsiona? Jesus claramente ensina que a motivação define o valor espiritual da prática.

O versículo também aborda a tensão entre reconhecimento público e recompensa eterna. Há um trade-off inevitável: buscar aprovação humana imediata significa abrir mão de aprovação divina futura. Esta escolha reflete diferentes compreensões sobre o que constitui o bem verdadeiro - a reputação terrena temporária ou o relacionamento eterno com Deus.

A crítica de Jesus à performance religiosa confronta a tendência humana universal de valorizar a opinião externa sobre a transformação interna. Isso conecta-se com debates filosóficos sobre a natureza da virtude: ela existe para ser vista ou existe em si mesma, independentemente de observadores? Jesus argumenta pela virtude intrínseca, praticada na privacidade do relacionamento com Deus.

Por fim, o ensino desafia a ideia de que práticas religiosas possuem valor automático. O jejum não é meritório simplesmente por ser realizado; seu valor depende do coração com que é praticado. Isso questiona sistemas religiosos que enfatizam comportamentos externos sem considerar a disposição interior.

7. Aplicações Práticas

Na Vida Pessoal

Examine suas motivações ao praticar disciplinas espirituais. Antes de orar, jejuar ou servir, pergunte-se: "Estou fazendo isto para Deus ou para impressionar pessoas?" Se a resposta honesta incluir desejo de reconhecimento humano, pare e reoriente seu coração. Pratique disciplinas espirituais em particular, em momentos e lugares onde ninguém saberá. Isso testa e purifica suas motivações.

Nas Redes Sociais

Seja cuidadoso ao compartilhar suas práticas espirituais online. Postar sobre seu tempo de oração, jejum ou leitura bíblica pode facilmente se tornar busca por validação através de curtidas e comentários. Nem toda experiência espiritual precisa ser compartilhada publicamente. Reserve as experiências mais íntimas com Deus para seu relacionamento privado com Ele.

Na Igreja

Evite comparar suas práticas espirituais com as de outros membros. A competição espiritual é uma forma sutil de hipocrisia - buscar ser visto como "mais dedicado" que outros. Encoraje uma cultura de humildade onde as pessoas sentem liberdade para crescer em seu próprio ritmo, sem pressão para performar espiritualmente.

No Trabalho

Não use sua fé como ferramenta de marketing pessoal. Mencionar constantemente suas práticas espirituais para colegas pode ser uma forma de buscar admiração e respeito. Deixe que seu caráter e integridade falem por você, sem necessidade de propaganda religiosa.

Na Família

Ensine seus filhos que práticas espirituais não são para ganhar elogios dos pais ou de outros. Evite recompensar externamente (com dinheiro, privilégios) práticas como leitura bíblica ou oração. Ajude-os a desenvolver motivação interna, focada em conhecer e amar a Deus.

Em Tempos de Crise

Quando enfrentar dificuldades, jejue e ore em particular, sem anunciar suas práticas espirituais para todos. Compartilhar pedidos de oração é válido, mas transformar sua crise em oportunidade para exibir piedade distorce o propósito do jejum.

No Serviço Cristão

Sirva de formas que não trazem reconhecimento público. Voluntarie-se para tarefas nos bastidores. Se você só serve quando há visibilidade, examine suas motivações. O Reino de Deus precisa mais de servos anônimos do que de celebridades religiosas.

8. Perguntas e Respostas Reflexivas sobre o Versículo

1. Quais são alguns exemplos modernos de como os cristãos podem cair na armadilha de realizar atos religiosos para exibição, semelhante aos hipócritas em Mateus 6:16?

Na era das redes sociais, há inúmeras formas de hipocrisia religiosa moderna. Postar fotos de Bíblias abertas com legendas espirituais para ganhar likes pode ser mais sobre construir uma imagem religiosa do que sobre crescimento genuíno. Orar em voz alta em grupos com linguagem eloquente e religiosa, buscando impressionar pela espiritualidade aparente, replica o comportamento dos fariseus. Mencionar constantemente jejuns, vigílias ou tempo de oração em conversas casuais para estabelecer credibilidade espiritual também se enquadra nesta categoria. No contexto da igreja, voluntariar-se apenas para ministérios visíveis enquanto evita servir nos bastidores revela motivações questionáveis. Usar roupas ou símbolos religiosos ostensivos primariamente para sinalizar piedade aos outros, em vez de expressar fé genuína, é outra forma moderna desta hipocrisia. O perigo não está nas práticas em si, mas na motivação: buscar validação humana em vez de intimidade com Deus.

2. Como podemos garantir que nosso jejum e outras disciplinas espirituais sejam feitos com as motivações corretas e não pela aprovação dos outros?

A chave está no autoexame honesto e frequente. Antes de iniciar qualquer prática espiritual, pause e reflita sobre suas razões verdadeiras. Pergunte-se: "Se ninguém soubesse disso, eu ainda faria?" Se a resposta for não, sua motivação precisa ser ajustada. Pratique disciplinas espirituais em completa privacidade sempre que possível - jejue sem contar para ninguém, ore em seu quarto fechado, sirva anonimamente. Note sua reação emocional quando outros não reconhecem suas práticas espirituais; se você sente frustração ou desejo de mencionar o que tem feito, isso indica motivação incorreta. Cultive um relacionamento com Deus que seja sua própria recompensa; quando a comunhão com Ele se torna suficiente, a necessidade de aprovação externa diminui naturalmente. Confesse regularmente a Deus qualquer orgulho ou desejo de reconhecimento que você detectar, pedindo que Ele purifique suas motivações. Lembre-se que Deus vê em secreto e recompensa genuinamente - essa promessa deve ser suficiente.

3. De que formas o jejum pode nos ajudar a crescer mais perto de Deus e aprofundar nossa vida espiritual?

O jejum cria espaço físico e mental para focar em Deus. Quando abstemos de alimentos, cada sensação de fome torna-se um lembrete para orar e buscar a Deus. Isso transforma uma necessidade física em oportunidade espiritual. O jejum também humilha, lembrando-nos de nossa fragilidade e dependência de Deus para tudo, não apenas alimento. Esta humildade abre o coração para ouvir Sua voz com mais clareza. Além disso, jejuar exercita autodisciplina espiritual; ao negar um desejo legítimo (comida), fortalecemos a capacidade de resistir a tentações e desejos ilegítimos. Durante o jejum, muitas pessoas experimentam maior sensibilidade espiritual - pensamentos mais claros sobre questões de fé, discernimento aprimorado em decisões, consciência mais aguda da presença de Deus. O jejum também pode ser um ato de arrependimento genuíno, demonstrando a Deus seriedade sobre mudança de vida. Quando combinado com oração, cria um período intenso de busca espiritual que frequentemente resulta em crescimento significativo no relacionamento com Deus.

4. Como o ensino em Mateus 6:16 se relaciona com o tema mais amplo do Sermão do Monte sobre a condição do coração na adoração?

O Sermão do Monte consistentemente contrasta religiosidade externa com transformação interna do coração. Jesus ensina sobre ira no coração, não apenas assassinato externo; luxúria interior, não apenas adultério físico; sinceridade na oração privada, não apenas orações públicas eloquentes. Mateus 6:16 continua este padrão, focando na motivação interna do jejum em vez da prática externa. O tema unificador é que Deus avalia o coração, não performances. As beatitudes no início do sermão enfatizam qualidades internas como humildade, pureza de coração e fome de justiça - todas invisíveis externamente mas preciosas para Deus. Jesus está redefinindo a justiça: não como conformidade a regras externas que impressionam pessoas, mas como transformação interior que agrada a Deus. Esta ênfase no coração confronta toda forma de hipocrisia religiosa, onde aparência e realidade divergem. O Sermão do Monte chama os seguidores de Jesus para autenticidade radical - ser por dentro o que aparentamos por fora, com motivações puras conhecidas apenas por Deus.

5. Reflita sobre um momento em que você praticou uma disciplina espiritual. Como isso impactou seu relacionamento com Deus e o que você aprendeu sobre suas motivações?

Esta pergunta requer reflexão pessoal individual. Ao refletir, considere momentos específicos de jejum, oração prolongada, leitura bíblica intensiva ou serviço cristão. Examine honestamente: suas motivações eram puras ou misturadas? Você sentiu desejo de mencionar sua prática para outros? O ato aproximou você genuinamente de Deus ou foi primariamente um exercício religioso? Que transformação interna, se alguma, resultou? Você aprendeu algo novo sobre Deus ou sobre si mesmo? Houve momentos em que percebeu orgulho espiritual surgindo? Como Deus trabalhou em seu coração durante e após a prática? Esta autoanálise honesta é essencial para crescimento espiritual autêntico, revelando áreas onde motivações precisam ser purificadas e celebrando momentos de comunhão genuína com Deus.

9. Conexão com Outros Textos

Isaías 58:1-14

"Acaso, não é este o jejum que escolhi: que soltes as correntes da injustiça, desfaças as cordas do jugo, ponhas em liberdade os oprimidos e quebres todo jugo? Não é compartilhar sua comida com o faminto, abrigar o pobre desamparado, vestir o nu que você encontrou e não recusar ajuda ao próximo?" (Isaías 58:6-7)

Este capítulo discute o verdadeiro jejum, enfatizando que deve ser acompanhado por atos de justiça e misericórdia, e não mero ritual. Deus rejeita jejuns que são apenas religiosos externamente enquanto negligenciam compaixão e justiça. O jejum autêntico transforma não apenas a vida espiritual interior, mas também as ações externas de amor ao próximo.

Mateus 23:5

"Tudo o que fazem é para serem vistos pelos outros. Eles alargam os filactérios e alongam as franjas de suas vestes." (Mateus 23:5)

Jesus critica os fariseus por suas demonstrações externas de piedade, semelhante aos hipócritas em Mateus 6:16. Eles aumentavam os símbolos religiosos visíveis não por devoção genuína, mas para impressionar as pessoas. Este padrão de hipocrisia permeia o capítulo 23, onde Jesus pronuncia sete "ais" contra líderes religiosos que priorizam aparência sobre autenticidade.

1 Samuel 16:7

"O Senhor, porém, disse a Samuel: 'Não considere sua aparência nem sua altura, pois eu o rejeitei. O Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, mas o Senhor vê o coração.'" (1 Samuel 16:7)

Deus olha para o coração em vez de aparências externas, alinhando-se com o ensino de que o jejum deve ser sincero e não para exibição. Este princípio fundamental atravessa toda a Escritura: Deus avalia pelo interior, não pelo exterior. O que impressiona pessoas pode não impressionar Deus, e vice-versa.

Joel 2:12-13

"'Agora, porém', declara o Senhor, 'voltem-se para mim de todo o coração, com jejum, lamento e pranto. Rasguem o coração, e não as vestes.' Voltem-se para o Senhor, o seu Deus, pois ele é misericordioso e compassivo, muito paciente e cheio de amor; arrepende-se, e não envia a desgraça." (Joel 2:12-13)

Chama para arrependimento genuíno e jejum, enfatizando um retorno a Deus com todo o coração. O profeta contrasta ações externas (rasgar vestes, um sinal tradicional de luto) com transformação interna (rasgar o coração). O jejum verdadeiro expressa arrependimento profundo e desejo de reconciliação com Deus.

Tiago 4:8-10

"Aproximem-se de Deus, e ele se aproximará de vocês! Pecadores, limpem as mãos; e vocês, que têm a mente dividida, purifiquem o coração. Entristeçam-se, lamentem-se e chorem. Troquem o riso por lamento e a alegria por tristeza. Humilhem-se diante do Senhor, e ele os exaltará." (Tiago 4:8-10)

Encoraja os crentes a se aproximarem de Deus com corações sinceros, o que pode incluir jejum como forma de humilhar-se diante do Senhor. Tiago enfatiza purificação interior, arrependimento genuíno e humildade - todas atitudes compatíveis com jejum autêntico, não hipócrita.

10. Original Grego e Análise

Texto em Português:

"Quando jejuarem, não mostrem uma aparência triste como os hipócritas, pois eles mudam a aparência do rosto a fim de que os homens vejam que eles estão jejuando. Eu lhes digo verdadeiramente que eles já receberam sua plena recompensa."

Texto em Grego:

Ὅταν δὲ νηστεύητε, μὴ γίνεσθε ὡς οἱ ὑποκριταὶ σκυθρωποί· ἀφανίζουσιν γὰρ τὰ πρόσωπα αὐτῶν ὅπως φανῶσιν τοῖς ἀνθρώποις νηστεύοντες· ἀμὴν λέγω ὑμῖν, ἀπέχουσιν τὸν μισθὸν αὐτῶν.

Transliteração:

Hotan de nēsteuēte, mē ginesthe hōs hoi hypokritai skythrōpoi; aphanizousin gar ta prosōpa autōn hopōs phanōsin tois anthrōpois nēsteuontes; amēn legō hymin, apechousin ton misthon autōn.

Análise Palavra por Palavra:

Ὅταν (Hotan) - "Quando"

Conjunção temporal que indica uma ação que ocorrerá no futuro de forma habitual ou repetida. Jesus não diz "se" jejuarem, mas "quando", pressupondo que o jejum será uma prática regular de Seus seguidores.

νηστεύητε (nēsteuēte) - "jejuarem"

Verbo no subjuntivo presente, segunda pessoa do plural. A raiz "nēsteuō" significa abster-se de alimento. O modo subjuntivo indica uma ação esperada mas não certa, enquanto o tempo presente sugere ação contínua ou habitual.

ὑποκριταὶ (hypokritai) - "hipócritas"

Substantivo plural derivado do teatro grego, originalmente significando "atores" que usavam máscaras. No contexto religioso, refere-se àqueles que representam um papel espiritual sem sinceridade interior. A palavra carrega forte conotação negativa de falsidade e engano intencional.

σκυθρωποί (skythrōpoi) - "aparência triste / sombrios"

Adjetivo que descreve aparência sombria, triste ou carrancuda. Deriva de "skythros" (triste, carrancudo) e "ops" (rosto, aparência). Descreve a expressão facial deliberadamente alterada para comunicar sofrimento espiritual.

ἀφανίζουσιν (aphanizousin) - "mudam / desfiguram"

Verbo no presente ativo, terceira pessoa do plural. Significa "tornar invisível", "desfigurar" ou "destruir a aparência". Aqui descreve a ação deliberada de alterar a aparência facial para parecer pálido, descuidado ou sofrido.

πρόσωπα (prosōpa) - "faces / rostos"

Substantivo plural acusativo de "prosōpon", significando rosto ou face. É a parte mais visível e expressiva da pessoa, tornando a desfiguração intencional ainda mais evidente aos observadores.

φανῶσιν (phanōsin) - "apareçam / sejam vistos"

Verbo no subjuntivo aoristo passivo, terceira pessoa do plural. A raiz "phainō" significa "aparecer", "tornar-se visível" ou "mostrar-se". O propósito da desfiguração é precisamente ser notado pelos outros.

νηστεύοντες (nēsteuontes) - "jejuando"

Particípio presente ativo, nominativo plural masculino. Descreve o estado contínuo de quem jejua, enfatizando que o objetivo dos hipócritas era que todos soubessem de sua prática espiritual.

ἀμὴν (amēn) - "verdadeiramente / em verdade"

Transliteração do hebraico que expressa certeza, veracidade e firmeza. Usado por Jesus para enfatizar a autoridade e confiabilidade de Sua declaração. Indica que o que segue é absolutamente verdadeiro.

ἀπέχουσιν (apechousin) - "receberam / têm em pleno"

Verbo no presente ativo, terceira pessoa do plural. Literalmente significa "receber em completo", "ter inteiramente" ou "estar pago integralmente". É um termo comercial usado em recibos para indicar "pago por completo". Implica que nenhuma recompensa adicional virá.

μισθὸν (misthon) - "recompensa / pagamento"

Substantivo acusativo singular de "misthos", significando salário, pagamento ou recompensa. No contexto espiritual, refere-se às recompensas divinas por atos de devoção. Os hipócritas recebem admiração humana como seu pagamento completo, sem recompensa celestial adicional.

11. Conclusão

Mateus 6:16 expõe a natureza da verdadeira espiritualidade cristã, que deve ser caracterizada por sinceridade e intimidade com Deus, não por performances públicas. Jesus desmascara a hipocrisia religiosa que transforma práticas sagradas em oportunidades de autoprómoção.

O ensino central é que Deus avalia o coração, não as aparências. Os hipócritas da época de Jesus, e de todas as épocas, cometem o erro fundamental de buscar audiência humana quando deveriam buscar audiência divina. Eles recebem exatamente o que buscam - admiração temporária - mas perdem o que realmente importa: aprovação eterna de Deus.

O jejum, como todas as disciplinas espirituais, possui valor apenas quando praticado com motivações corretas. Não é a ação externa que agrada a Deus, mas a disposição interna do coração. Um jejum feito em secreto, conhecido apenas por Deus, tem mais valor espiritual do que cem jejuns publicamente anunciados.

Este versículo continua relevante porque a tentação à hipocrisia religiosa é permanente. As ferramentas mudaram - das ruas de Jerusalém para as redes sociais - mas a tentação permanece a mesma: usar a religião para construir reputação em vez de relacionamento com Deus.

Jesus chama Seus seguidores para autenticidade radical. Ele deseja que nossa vida interior corresponda à nossa aparência externa, que nossas motivações sejam puras, que busquemos a face de Deus e não os aplausos humanos. Esta autenticidade não é fácil, pois requer constante autoexame e humildade, mas é o único caminho para espiritualidade genuína.

A promessa implícita no versículo é que Deus recompensa aqueles que O buscam sinceramente. Embora os hipócritas recebam sua recompensa completa na terra, aqueles que praticam disciplinas espirituais com coração puro receberão recompensa eterna do próprio Deus - recompensa infinitamente superior ao louvor humano temporário.

 

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